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Chat GPT e jornalismo: Nós, humanos, somos necessários?


Reunioes virtuais do Emprojor acontecem a cada tres meses / Foto: Divulgacao


O tema da Inteligência Artificial (IA) Chat GPT marcou as discussões do quinto encontro do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor). A comunidade de jornalistas-pesquisadores comemorou, na reunião de julho, um ano de atividades on-line que envolvem 32 participantes. Iniciada entre profissionais de Macaé (RJ) e região, agora se abre a interessados de todo o estado e do Brasil.

"Por que nós somos necessários na era GPT? Eu nunca vi a profissão do jornalista crítico ser tão importante quanto hoje. Dentro da sala de aula, teremos que ensinar os alunos a fazer as perguntas certas ao chat", afirma a professora Jônia Quédma, mestre em comunicação pela PUC-SP, que mora no município, mas também trabalha remotamente para a Revista Cidade Nova, de Vargem Grande Paulista (SP), e para o Sistema de Rádio e TV Encontro das Águas, do estado do Amazonas.

Além de acertar as perguntas, checar sempre as respostas, no uso da IA. Esta é a orientação do jornalista Marcello Riella Benites. Ele tem realizado experiências com a ferramenta no doutorado que faz, em Comunicação e Tecnologia da Informação. O Enprojor é a tese que Riella desenvolve dentro do Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem (PGCL), na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em Campos dos Goytacazes (RJ).

Aplicativo algum substituirá, porém, o levantamento dos fatos no mundo real, fora da internet. É o que pensa Bruno Pirozzi, assessor de imprensa da prefeitura de Rio das Ostras (RJ). "Pode ser até que não seja mais tão necessária uma grande habilidade de escrever, mas a apuração da informação, que é a nossa matéria-prima, não vai ser dispensada", diz ele, que é mestrando do Programa de Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento, da UFRJ, com uma pesquisa sobre a comunicação de ações ambientais.

Ética como identidade do jornalista

A principal preocupação da categoria quanto ao GPT é sobre ética. "Quem é que vai fazer a filtragem do que é ou não verdade? Fizemos na conclusão da faculdade um juramento", lembra Ana Cristina Hermano, colega de Bruno no Executivo rio-ostrense, com pós-graduações em Assessoria de Imprensa, Jornalismo Cultural e Gestão Pública. "Usando esse mecanismo, você pode pedir ali: 'Faça uma reportagem dizendo que tal pessoa honesta sonegou impostos'. Ele vai produzir a matéria. E aí? É bem complexo", acrescenta ela, referindo-se à linguagem jornalística, que só pelo tipo de texto já inspira credibilidade, mesmo que as informações sejam falsas.

"Vamos nos identificar como jornalistas e mantermos a profissão de pé, na medida em que preservarmos a ética e o lugar que ocupamos na sociedade", afirma João Ventura, analista de comunicação da Associação Alphaville, empreendimento residencial em Rio das Ostras. Ventura associa o papel do profissional pela função que desempenha no debate público. "Existe todo esse medo da Inteligência Artificial, e ainda da disputa com os influencers, os produtores de conteúdo etc, mas a profissão ainda tem muita relevância porque nós contribuímos para nortear a discussão pública".

Segundo ele, essa contribuição, essencial para a democracia, ficou muito clara quando o governo Bolsonaro procurou direcionar a opinião da população através de fake news, e de uma produção paralela de informação. "Não era interessante pra ele ter o debate público pautado por pessoas que prezam por uma informação de qualidade, pela cobertura in loco. Então, na verdade, essa era a briga de Bolsonaro com os jornalistas".

Pesquisa-Ação e Análise do Discurso

O Enprojor utiliza a Pesquisa-Ação, uma linha metodológica empregada na investigação e busca de soluções para problemas similares dos membros de uma comunidade, envolvendo esses mesmos integrantes como pesquisadores. "Não há um objeto de estudos externo ao pesquisador. Especialmente, no nosso caso, quem teve a iniciativa do projeto faz parte da comunidade, ou seja, a dos jornalistas interessados em viabilizar o ofício", explica Marcello.

Tendo como título oficial "Tecnologia e Mercado, Identidade e Discurso: Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista", a iniciativa lança mão ainda da Análise do Discurso (AD). Essa abordagem será aplicada nas falas gravadas – desde que autorizadas; nunca identificadas – dos jornalistas em reuniões trimestrais on-line. A AD detecta, na estrutura linguística dos textos transcritos, registros psicanalíticos lidos a partir do estruturalismo marxista. "É como colocar o discurso no divã e observar nele disputas, dominação, submissão e negociação".

Benites relata que o projeto se inspira em outro semelhante, o Governança, Produção e Sustentabilidade em Jornalismo (GPS-Jor) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). GPS é propositalmente uma metáfora para orientação aos jornalistas como motoristas num trajeto desconhecido e por vezes muito perigoso.

A exemplo do GPS-Jor, o Enprojor reunirá em encontros futuros outros atores da produção jornalística: consumidores da informação, estudantes de jornalismo, trabalhadores como fotógrafos, designers e cinegrafistas; anunciantes, donos de veículos e publicitários, entre outros. As discussões vão gerar a formulação do que os pesquisadores da UFSC chamam de um "jornalismo de novo tipo", mais apto a atender seus diversos públicos.

Próxima reunião será em 9 de outubro

O Enprojor tem como orientador o jornalista e professor do PGCL/Uenf, Sérgio Arruda de Moura. A última reunião do projeto foi no dia 10 de julho, e a próxima será em 9 de outubro, às 19h. Os interessados podem participar gratuitamente. Basta inscrever-se pelo WhatsApp (22) 99832-9028.


* Texto: Jornalista Marcello Riella Benites / Câmara Municipal de Macaé / PPGCL / UENF






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