Rafaela Silva: cria da Cidade de Deus já transformou chinelo em ouro e busca redenção em Paris após doping
- Jornal Esporte e Saúde
- 15 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Judoca campeã olímpica, que perdeu disputa em Tóquio-2020 por suspensão, tem história contada na série Elas no Pódio
Imagem: David Ramos/Getty Images
Quase todo mundo tem viva na memória a imagem daquela pracinha perto de casa onde a lei era brincar até cansar e voltar exausto, com os pés sujos de terra. A rotina da filha de Luiz Carlos e Zenilda Silva não era diferente. Aos oito anos, Rafaela Silva gostava de jogar bola e interagir com os coleguinhas da região.
Essa reportagem faz parte da série Elas no Pódio, que conta histórias de seis mulheres (Rafaela Silva, Bia Ferreira, Ana Marcela Cunha, Rebeca Andrade, Vivina Lyra e Rayssa Leal) que são inspiração e referências nos seus respectivos esportes, além de representarem o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris.
A não ser quando tentavam sumir com o seu chinelo e a sua pipa. Era aí que ela virava a chave e obedecia a um único reflexo: reagir. Não tinha outra opção a não ser revidar os ataques e se envolver em brigas de rua na altura de uma região conhecida como AP2, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Rafaela Silva nasceu na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro
Foto: Reprodução/Instagram
Se dar por vencida nem passava na cabeça da pequena. Por isso mesmo, era comum que os pais recebessem reclamação toda semana pelas brigas que ela arrumava. Sem saber o que fazer para direcionar tanta energia da caçula, Luiz Carlos e Zenilda tiveram uma ideia: matricular a filha em uma escolinha de futebol. O pai até tentou, mas no local não havia vagas para meninas. Foi aí que o judô entrou na vida da família Silva.
Se esse texto fosse um filme, o diretor cortaria para a seguinte cena: a menina, já uma mulher de 24 anos, comemorando ao ser a primeira judoca brasileira a ganhar uma medalha de ouro na Olimpíada, em seu próprio País, na cidade em que nasceu e a cinco minutos de distância da comunidade onde cresceu.
A motivação para vencer poderia ter vindo de sua batalhada história de vida, da sua irmã e 'fiel escudeira’, Raquel, ou dos treinadores que a acompanharam durante toda a trajetória no judô. Porém, veio da pequena Rafaela, lá da Cidade de Deus.
Foto arte : Terra
Pouco antes de subir no tatame da Arena Carioca, na Barra de Tijuca, para disputar a medalha olímpica na categoria até 57 kg no judô, Rafaela foi encarada pela coach esportiva Nell Salgado, que olhou nos olhos da pupila e lembrou o motivo das inúmeras brigas na praça da AP2: "Essa medalha é o teu chinelo e a tua pipa, vai buscar”. A judoca buscou e fez história. A atleta, que enfrentou o racismo e momentos difíceis no esporte, gravou seu nome no judô a nível mundial e é reflexo da criança que sempre teve marra de campeã.
Essa história não é um roteiro de longa-metragem, mas bem que poderia servir de inspiração. Quem assistiu ao clássico de Fernando Meirelles e Kátia Lund, lançado em 2002 já deve ter ouvido a seguinte frase: “Mas, afinal, tem um lugar melhor pra acontecer milagre do que numa favela chamada Cidade de Deus?".
* Catarina Carvalho, do Rio de Janeiro / https://www.terra.com.br/esportes/
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