O Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua (19 de agosto), foi celebrado na Pousada da Cidadania, um equipamento da secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Acessibilidade, criado para acolher temporariamente as pessoas que vivem em situação de rua. Um bate-papo reflexivo, um filme motivacional, uma exposição de artesanatos e um lanche coletivo fizeram parte do evento realizado neste sábado (19).
A data comemorativa é alusiva e em memória ao acontecimento conhecido como “Massacre da Sé”, ocorrido em 2004, no qual sete pessoas foram assassinadas e oito ficaram gravemente feridas enquanto dormiam na região da Praça da Sé, capital paulista. Tal fato desencadeou o início da mobilização de grupos da população em situação de rua para construir o Movimento Nacional da População de Rua, em uma contínua luta pela garantia de direitos. No Brasil mais 206 mil pessoas vivem nessas condições e no Rio de Janeiro 7.865.
De acordo com a psicóloga, Luciana Rust, todo ano a data é marcada com alguma ideia. “Este ano, passamos um filme motivacional, porque a maioria aqui tem mais perdas do que ganhos. Então, a gente precisa mexer com a autoestima deles contida na proposta da película exibida. Antes de passar o filme fizemos um bate-papo com nossos usuários, explicando o significado desta data (19 de agosto), que ficou marcada como Dia de Luta, gerando a partir disso, um decreto que garante os direitos da população em situação de rua. A exposição do artesanato das usuárias da casa é o resultado de muitos dias de dedicação, capricho e que, também faz parte de um processo terapêutico onde é possível ocupar a mente, sentir-se útil, elaborar conflitos e gerar renda, entre outras coisas”, destacou.
Sinopse do filme “A grande virada” – O personagem principal teve perdas, mas não chegou a ficar em situação de rua. Era uma pessoa de alta classe social que desempregou e teve que recomeçar, lidando com o próprio orgulho, sabendo que recomeçaria de baixo, tendo a questão da autoestima. “É muito o aprendizado que as perdas podem ocasionar. O começo do filme foi de revolta, de negação do novo status para depois se ressignificar como uma pessoa que precisava começar novamente de baixo e no final, ele contou com a ajuda de familiares e amigos, conseguindo montar sua própria empresa começando de baixo, mas com outra postura”, explicou a psicóloga.
Para M.S., de 42 anos e há sete meses na pousada, o filme mostrou que o personagem era bem empregado e orgulhoso, mas a vida ensinou que ele devia olhar o mundo de outra forma. “A queda com o desemprego o fez adquirir a humildade e crescimento pessoal”, disse, acrescentando que ficou em situação de rua pelo desemprego e situação financeira. Já J.A.S., 65 anos, reconhece que o filme ensina sobre a humildade. Ele contou que desde 2014 é acolhido na Pousada. Sou vigia e serviços gerais, mas, nem sempre há empregos fixos. Já fui acolhido três vezes aqui. Sou de Natal/RN, porém, prefiro viver em Macaé, onde há mais oportunidade de trabalho, ainda bem que com a ajuda da Pousada, a aposentadoria já está chegando”, comemorou.
Durante o evento, a exposição artesanal mostrou miniaturas em EVA, patchwork, biscuit, feltro, sabonete artesão e material reciclado com produtos confeccionados por duas usuárias da Pousada – F.A., de Barra Mansa/RJ, 47 anos de idade, criada por sua avó, foi mãe aos 15 anos de idade e perdeu sua família, e M., de Paracambi/RJ, 39 anos, que só conheceu sua mãe aos 15 anos, teve filhos e esposo, mas precisou ser acolhida com medida protetiva.
As estatísticas revelam que o perfil da população atendida em Macaé/RJ, em sua grande maioria é de migrante e gênero masculino, oriundos da Região Sudeste, com pouca qualificação profissional, não documentados, escolaridade no ensino fundamental incompleto e desempregados.
Os atendimentos da Pousada – A Pousada da Cidadania, como abrigo temporário dá aos usuários uma atenção especializada de assistência social, psicologia e enfermagem, além de encaminhamentos para as Redes de saúde e educação, documentação e oferta de emprego, entre outras, visando resgatar os vínculos familiares e sociais, cuidados à saúde, bem como desenvolver o processo de autonomia e qualificação para o mundo do trabalho.
Segundo o coordenador da Pousada, Alanderson de Souza, a média de acolhidos é de 50 pessoas, que ficam o tempo necessário para sua inclusão social. “Nossa equipe é multidisciplinar e tem trabalhado para resgatar os vínculos familiares e sociais, bem como desenvolver o processo de autonomia e qualificação para o mundo do trabalho. Aqui os acolhidos recebem as principais refeições diárias, lavam as suas roupas e encontram referência com o atendimento dos nossos profissionais”, assegurou.
Serviço:
A Pousada da Cidadania fica localizada na Rua Orlando Tardelli, nº 206 – Parque Bela Vista, próximo ao Campo D’Oeste. Horário de Atendimento: todos os dias, 24h por dia.
E-mail: pousadadacidadania1@gmail.com
* Texto: Jornalista Lourdes Acosta / fotos: Divulgação
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