Grupo de pesquisa Enprojor reúne profissionais da área para enfrentar a crise do jornalismo
Foto arte: Divulgação
O fim da imprensa, no formato como ficou conhecida, é consenso para um grupo de jornalistas pesquisadores. Esse tema foi uma das pautas do quarto encontro do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor), do qual participam. O grupo agrega profissionais de estado do Rio de Janeiro, incluindo representantes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e sindicato da categoria, e está aberto a participantes de todo o país.
“Precisamos parar de pensar em termos da grande imprensa como única possibilidade de trabalho porque ela está com os dias contados”, afirmou Christiane Milagres, jornalista e professora de comunicação da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora (FSMA), de Macaé. A proposta do Enprojor, que realizou o seu quarto encontro no dia 11 de abril, é baseada na pesquisa-ação. Segundo a metodologia, a comunidade deve buscar soluções para problemas comuns de seus integrantes. A próxima reunião será em 10 de julho.
Max Andrade, editor da afiliada da TV Globo em Cabo Frio, que também já deu aulas de jornalismo, concorda com a colega. “Eu sempre dizia a meus alunos para esquecerem a grande mídia. As oportunidades de trabalho estarão cada vez mais em veículos que atendem a pequenos públicos específicos”. Ele diz também que a profissão é desvalorizada e que o mercado está à mercê de pseudojornalistas, dando o exemplo do influencer bolsonarista Alan dos Santos.
Significativo que Santos não tenha diploma, já que a obrigatoriedade do certificado para o exercício da profissão foi o principal tema dos comentários. “É fundamental. Nós temos que levantar essa bandeira até por conta das fake news e do falso jornalismo que surgiu”, opina o conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) Marcelo Auler.
À frente do blog homônimo, Auler está entre os que já atuavam quando começou a exigência de formação e foram autorizados a trabalhar sem fazer o curso de jornalismo. “Passei por três faculdades e, devido a dificuldades do trabalho e incompreensão de professores, acabei desistindo”.
“Querem esvaziar o jornalismo”
“Eu respeito jornalistas experientes que não tiveram a oportunidade de fazer faculdade, como Marcelo. Mas hoje em dia, quando você vê uma notícia de influencer que brigou com o marido porque encontrou ele no motel, dá a impressão que existe o objetivo de esvaziar a profissão”, disse Marcus Santos. Ele trabalha na comunicação institucional da Petrobras e não esconde sua angústia: “Eu gostaria de saber dos jovens jornalistas que futuro eles veem na jornalismo”.
Formada há sete anos, Ana Clara Menezes concorda com o difícil quadro descrito pelos colegas. “Lamento não ver outras pessoas da minha idade em encontros como este. Temos que lutar pela PEC do Diploma. Se ela não for aprovada, a nossa profissão vai ser desvalorizada cada vez mais”, afirma ela que, entre outras atividades, atua como correspondente do jornal carioca O Dia na região da Baixada Litorânea e apresenta o webjornal RJ Interior.
O presidente do sindicato estadual, Mário Souza, defende a formação da categoria. “Estamos nessa luta junto com a Fenaj e todos os sindicatos do país, em defesa da PEC, e não vejo, como acham algumas pessoas, que os avanços tecnológicos dispensam o diploma. Muito pelo contrário. Aí sim é que precisamos de formação, para qualificar esses avanços”.
“Há muitos jornalistas antiéticos”
Jornalista da Fundação Rio das Ostras de Cultura, Alexandre Trápaga também está à frente do site Grupo Imprensa. Ele considera que há muitos jornalistas antiéticos, mesmo com diploma, que colaboram para a desvalorização. “Mas eu acho que, para quem é bom, sempre vai ter algum espaço. Não conseguiu um emprego na Globo? Não tem problema nenhum. Monta um blog e trabalha sério que você vai conseguir viver da profissão”.
De acordo com Simone Belloti, da Assessoria de Comunicação e Tecnologia da Informação da prefeitura de Rio das Ostras, os que não têm diploma prejudicam a qualidade do jornalismo. “Você acaba não exigindo muito do profissional, pois sabe que falta formação. Por outro lado, mesmo tendo cursado faculdade, a gente tem que se qualificar sempre mais”.
Pesquisa-ação
O encontro foi moderado por Marcello Riella Benites, da Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Macaé. O Enprojor faz parte do doutorado que Benites está cursando no Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem (PGCL), da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). A linha de estudos de Marcello dentro do PGCL é a de Comunicação e Tecnologia da Informação.
“Nossa metodologia da Pesquisa-ação propõe que a investigação seja realizada por jornalistas-pesquisadores”. Segundo ele, o projeto concretiza o conceito do método dual do filósofo alemão Jürgen Habermas, autor da Teoria da Ação Comunicativa. “Habermas diz que uma ação comunicativa deve supor dois agentes, um que vive as situações práticas e outro que maneja os saberes das Ciências Sociais. No nosso grupo temos os dois tipos, e algumas pessoas que reúnem ambas as condições”, explica.
Ele acrescenta ainda que, após uma primeira etapa de conversas para criar essa “Comunidade de Pesquisa e Prática”, serão planejadas e efetivadas ações de enfrentamento da crise profissional, como campanhas de apoio à PEC do Diploma; propostas de adesão a sindicatos, associações e coletivos para fortalecer a categoria; projetos de novos modelos de negócios que tornem viável viver do jornalismo, entre outras.
Próximo encontro
Os profissionais vão se reunir novamente, on-line, no dia 10 de julho, terça-feira, às 19h. Quem quiser participar pode entrar em contato pelo WhatsApp (22) 99832-9028. O link será enviado horas antes da reunião.
Serviço:
5º Encontro On-line do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor)
Data: 10 de julho
Hora: 19h
Duração: 1h30
* Ana Cristina Hermano / Assessoria de imprensa / apoio: Marcello Riella Benites
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